O físico britânico Tim Berners-Leeum NeXTcube

Há 25 anos, a World Wide Web se tornava pública

Nem sempre é fácil determinar a origem de alguma coisa. O nascimento da world wide web — a rede mundial de computadores, da qual você está usufruindo neste exato momento para ler este artigo —, por exemplo, é cheio de controvérsias. Alguns celebram seu aniversário na data em que seu criador, o físico britânico Tim Berners-Lee, apresentou o documento técnico explicando a sua ideia; outros apontam o dia em que ele ligou o primeiro servidor e colocou no ar a primeira página de hipertexto para todos acessarem.

Porém, foi só no dia 30 de abril de 1993 — ou seja, há exatamente 25 anos — que a web tornou-se livre e teve seu software-base aberto em domínio público. A decisão da Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear ou CERN) iniciou uma verdadeira revolução na forma como nós nos comunicamos e compartilhamos conhecimento. Nada mais justo do que, nessa data, relembrarmos em detalhes a curiosa e fascinante história da WWW.

Onde tudo começou

A web não apareceu do dia para noite e, diferente do que muitos acreditam, não foi originalmente projetada para ser usada de forma gratuita por qualquer pessoa. O objetivo original de Tim Berners-Lee era projetar um sistema simples que poderia integrar os milhares de documentos gerados durante as pesquisas científicas de seus colegas de trabalho. E tudo começou com um projeto chamado ENQUIRE, que hoje é considerado o precursor da WWW contemporânea.

O ENQUIRE foi escrito por Tim em 1980, pouco tempo após seu ingresso na CERN. Naquela época, cerca de 100 mil cientistas trabalhavam na organização. O problema é que cada indivíduo usava hardwares e softwares diferentes, o que causava um gargalo enorme na comunicação interna — na maioria das vezes, os arquivos digitais eram trocados por e-mail, o que causava uma confusão generalizada na organização de relatórios e afins. O sistema, que lembra um pouco as wikis atuais, foi construído para resolver esse problema.

Tim passou algum tempo fora da CERN e, ao retornar em 1984, percebeu que o ENQUIRE precisava de certos incrementos. O sistema ainda funcionava razoavelmente bem e atendia as necessidades internas, mas o britânico almejava algo que fosse mais fácil de atualizar e utilizar. Foi nesse momento que ele começou a rabiscar como funcionaria a world wide web, uma tecnologia universal para acessar documentos de hipermídia em qualquer servidor do mundo. A proposta foi apresentada à CERN no dia 21 de março de 1989.

 

Proposta de Tim à diretoria da CERN (Reprodução: CERN)

 

“Vago, porém empolgante”

Acredite ou não, mas a reação inicial dos superiores de Tim foi bem fria. Mike Sendall, supervisor direto do físico, comentou que o projeto era “vago, porém empolgante…”, e deu sinal verde para que ele começasse a trabalhar no sistema. No final de 1990, tudo o que era necessário para que a web funcionasse já havia sido criado: um navegador bem simples (batizado de WorldWideWeb, sem espaços), um software que transformava o PC em um servidor e os primeiros sites — que, por sinal, falavam do próprio projeto.

O físico construiu tudo isso em um NeXTcube, computador fabricado pela NeXT (empresa fundada por Steve Jobs depois que ele foi expulso da Apple em 1985). A mesma máquina também se transformou no primeiro servidor da história da web — até hoje o equipamento é preservado pela CERN como um item histórico, ostentando um bilhete escrito à mão por Tim e no qual é possível ler a seguinte mensagem: “Esta máquina é um servidor. NÃO DESLIGUE!”.

 

O primeiro servidor da web (Reprodução: CERN)

 

A web foi divulgada ao mundo através de uma postagem feita na alt.hypertext, uma comunidade da usenet que discutia sobre padrões e futuro dos documentos de hipertexto. O sistema “bombou” e, poucos meses depois, foi adotado de forma privada pelo Centro de Aceleração Linear de Stanford (Stanford Linear Accelerator Center ou SLAC), nos Estados Unidos, para organizar os documentos de suas pesquisas em física.

E então, em 1993, a CERN resolveu anunciar que a WWW seria gratuita para qualquer pessoa do mundo e liberou todas as ferramentas necessárias para utilizá-la, incluindo os softwares feitos por Tim para transformar qualquer computador em um servidor. Dois meses antes do anúncio, os responsáveis pelo protocolo Gopher — principal rival da web — haviam começado a cobrar uma taxa de licenciamento, o que alavancou ainda mais a popularidade do projeto.

 

 

Da CERN para o mundo

A abertura da world wide web naturalmente causou uma evolução natural da tecnologia, visto que cientistas e entusiastas começaram a aprimorá-la cada vez mais. Em 1994, com o apoio da CERN, da DARPA e da Comissão Europeia, Tim Berners-Lee fundou a World Wide Web Consortium (W3C), órgão que até hoje se responsabiliza por desenvolver novos padrões e acompanhar o correto desenvolvimento da WWW.

Infelizmente, os rumos que a rede está tomando não estão satisfazendo Tim, que, em novembro do ano passado, afirmou ter medo do futuro da web, criticando a disseminação de fake news, o uso abusivo de publicidade online e algoritmos que polarizam a web.

Já em março de 2018, o físico afirmou que “o que um dia era uma seleção rica de blogs e sites foi compactado sob o poder de algumas poucas plataformas dominantes”, referindo-se ao domínio das redes sociais.

Fonte: CANALTECH